julho 28, 2010

Guia de vida

Tenho lido nos últimos tempos um livro sobre Montaigne por uma autora inglesa chamada Sarah Bakewell. Todos os seus vinte capítulos são tentativas de resposta à pergunta que Montaigne encontrou na filosofia antiga (e já ficando fora de moda face a uma filosofia mais abstrata) e a que se dedicou então — Como Viver?

P: Como viver? R: Não penses na morte.

P: Como viver? R: Presta atenção.

P: Como viver? R: Nascendo.

P: Como viver? R: Lê muito, esquece a maior parte, sê lento de raciocínio.

P: Como viver? R: Sobrevive ao amor e à perda.

P: Como viver? R: Faz uso de pequenas manhas.

P: Como viver? R: Questiona tudo.

P: Como viver? R: Mantém um quarto só para ti.

P: Como viver? R: Vive com os outros.

P: Como viver? R: Desperta do sono do hábito.

P: Como viver? R: Com temperança.

P: Como viver? R: Preserva a tua humanidade.

P: Como viver? R: Faz algo que não foi feito antes.

P: Como viver? R: Vai ver o mundo.

P: Como viver? R: Faz um bom trabalho, mas não demasiado bom.

P: Como viver? R: Filosofa apenas por acaso.

P: Como viver? R: Reflete sobre tudo, não te arrependas de nada.

P: Como viver? R: Abandona.

P: Como viver? R: Sê comum e imperfeito.

P: Como viver? R: Deixa que a vida seja a sua própria resposta.

Roubei as respostas a Sarah Bakewell, que as roubou a Montaigne. Montaigne roubou principalmente ao grecorromano Plutarco, por vezes sob a forma de histórias intrigantes.

Rui Tavares, «Consoante Muda», Público 28/07/2010 [Excerto.]

Pill low by wendall

2 comentários:

apricare disse...

"Viver é doce; viver é agro: nesta alternativa se passa a vida"
(Marquês Maricá)

João Almeida disse...

O Marquês levava uma bela vida :)